PROGRAMAÇÃO CULTURAL - AÇÃO IDEA 2010 EM MARAJÓ
Projeto Carimbó na Praça, Grupo de Tradições Marajoara Cruzeirinho (Coordenação: Amélia Barbosa)
Encenação "Teatro das Lendas", Grupo de Teatro do Marajó-GRUTEMA (Coordenação: Lúcio Sarmento)
Projeção do filme QUEM CORTOU A LÍNGUA DE FEITICEIRA QUE OS DONOS DO MUNDO TEMIAM?, realizado pelo Coletivo audiovisual Resistência Marajoara como resultado da oficina VIDEOTEATRO DALCIDIANO (Coordenadores: Francisco Weyl - Isabela do Lago – Rosilene Cordeiro)
Feira do Artesanato Marajoara, SOCIEDADE MARAJOARA DAS ARTES (Coordenação: Fátima Pires)
PARCEIROS: Ponto de Cultura Cruzeirinho (Soure/Pa), Grupo de Teatro do Marajó-GRUTEMA, Sociedade Marajoara das Artes-SOMA, Fórum da Juventude Marajoara, Associação Fé em Deus, Grupo de Tradições Marajoara Cruzeirinho, Revista PZZ, INOVAINCE-Fapespa, Projeto Resistência Marajoara, Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura do Município de Soure.
COORDENAÇÃO GERAL: AMÉLIA BARBOSA e ANDREA SCAFI
sexta-feira, 9 de julho de 2010
IDEA 2010
O MARAJÓ - Capítulo 34 (DALCÍDIO JURANDIR)
O MARAJÓ - Capítulo 34 (DALCÍDIO JURANDIR)
“Nhá Leonardina cinge o corpo com a faixa, invoca baixinho o caruana e corre em direção ao lago.
Anda pelo campo, apanha flor de batatarana, ouvi o grito do sapo apanhado pela cobra e o olha fixamente o gado. A pajé sentou à beira do lago, as mãos murchas e trêmulas, a voz tão cansada.
À noite Orminda encontra a Nhá Leonardina no chão, brincando feito criança, cantando baixinho:
Atin-nan-nan
Dinlindandan
A pajé perdia o poder da invocação. Aquelas palavras não tinham mais significação para o caruana com quem a velha Leonardina tivera uma vivência tão longa e tão misteriosa. E em vão Orminda tentava levantá-la e conduzi-la para a barraca.
Aeuals palavras, queixa ou súplica, onde o poder das palavras? Quem cortou a língua de feiticeira que os donos do mundo temiam?
Corria ao longo da praia. Perdeu a voz, perdeu a memória dos encantamentos, o fumo do cachimbo perdeu o dom do mistério. Para onde o fumo que enche as almas, acompanha os destino, embalsamo os feitiços, ronda em torno das sessões da meia-noite, puxa dos poços e dos lagos as vozes da vidência? Onde estás, Cavalo Marinho? Onde perdi meu corpo bonito, mais bonito que o de Orminda? Por que dei meu corpo para a pororoca, por que perdi, bichos do fundo, a minha força de enfeitiçar e de fechar os corpos contra o alheio enfeitiçamento?
Só era a simples lembrança da toada:
Mureruereua
Atin-nan-nan
Os pescadores estendiam as largas redes de lanceação em pleno lago. Dentro d’água cercavam os peixes como vaqueiros na malhada. Seus gritos significavam que a safra da lanceação era compensadora. A noite clara parecia inimiga dos peixes e do lago.
Os caruanas não voltavam. Nhá Leonardina olhava o céu, as águas e tremia. As redes avançaram sobre o cardume dos peixes. O vento aumentou, Os campos caminhavam sem fim com a marcha das estrelas.
Com a ponta da faixa arrastando no chão, as mãos apalpando a sombra, a feiticeira corria, os cabelos espalhando-se na noite, como o vento e as vozes dos pescadores.
O lago a endoidecia. Orminda pedia socorro. Na boca do lago, junto a um bote encalhado na lama, três pescadores bebiam, silenciosamente. Não escutavam os pescadores do lago, os bacuraus, nem o grito de socorro de Orminda.
Nhá Leonardina estacou. Caiu na terra, principiou a brincar com imaginária sbruxas, canou um acalanto. Desaparece o Cavalo Marinho, o cachimbo, o reino da feitiçaria. Em seus olhos, em sua voz, em seus gestos o ar da infância que voltava. Suas lagrimas caíam lentas pela faixa e pelas coxas sujas de terra. Esse acalanto Orminda desconhecia. Vinha da infância cheia de verme, solitária, vivida num jirau sobre a lama onde as cobras deslizavam.”
© DALCÍDIO JURANDIR
O MARAJÓ - Capítulo 34
“Nhá Leonardina cinge o corpo com a faixa, invoca baixinho o caruana e corre em direção ao lago.
Anda pelo campo, apanha flor de batatarana, ouvi o grito do sapo apanhado pela cobra e o olha fixamente o gado. A pajé sentou à beira do lago, as mãos murchas e trêmulas, a voz tão cansada.
À noite Orminda encontra a Nhá Leonardina no chão, brincando feito criança, cantando baixinho:
Atin-nan-nan
Dinlindandan
A pajé perdia o poder da invocação. Aquelas palavras não tinham mais significação para o caruana com quem a velha Leonardina tivera uma vivência tão longa e tão misteriosa. E em vão Orminda tentava levantá-la e conduzi-la para a barraca.
Aeuals palavras, queixa ou súplica, onde o poder das palavras? Quem cortou a língua de feiticeira que os donos do mundo temiam?
Corria ao longo da praia. Perdeu a voz, perdeu a memória dos encantamentos, o fumo do cachimbo perdeu o dom do mistério. Para onde o fumo que enche as almas, acompanha os destino, embalsamo os feitiços, ronda em torno das sessões da meia-noite, puxa dos poços e dos lagos as vozes da vidência? Onde estás, Cavalo Marinho? Onde perdi meu corpo bonito, mais bonito que o de Orminda? Por que dei meu corpo para a pororoca, por que perdi, bichos do fundo, a minha força de enfeitiçar e de fechar os corpos contra o alheio enfeitiçamento?
Só era a simples lembrança da toada:
Mureruereua
Atin-nan-nan
Os pescadores estendiam as largas redes de lanceação em pleno lago. Dentro d’água cercavam os peixes como vaqueiros na malhada. Seus gritos significavam que a safra da lanceação era compensadora. A noite clara parecia inimiga dos peixes e do lago.
Os caruanas não voltavam. Nhá Leonardina olhava o céu, as águas e tremia. As redes avançaram sobre o cardume dos peixes. O vento aumentou, Os campos caminhavam sem fim com a marcha das estrelas.
Com a ponta da faixa arrastando no chão, as mãos apalpando a sombra, a feiticeira corria, os cabelos espalhando-se na noite, como o vento e as vozes dos pescadores.
O lago a endoidecia. Orminda pedia socorro. Na boca do lago, junto a um bote encalhado na lama, três pescadores bebiam, silenciosamente. Não escutavam os pescadores do lago, os bacuraus, nem o grito de socorro de Orminda.
Nhá Leonardina estacou. Caiu na terra, principiou a brincar com imaginária sbruxas, canou um acalanto. Desaparece o Cavalo Marinho, o cachimbo, o reino da feitiçaria. Em seus olhos, em sua voz, em seus gestos o ar da infância que voltava. Suas lagrimas caíam lentas pela faixa e pelas coxas sujas de terra. Esse acalanto Orminda desconhecia. Vinha da infância cheia de verme, solitária, vivida num jirau sobre a lama onde as cobras deslizavam.”
© DALCÍDIO JURANDIR
O MARAJÓ - Capítulo 34
Marcadores:
Ilha do Marajó
segunda-feira, 5 de julho de 2010
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Coletivo Resistência Marajoara
ALANA PRISCILA FREITAS
ALESSANDRA FIGUEIREDO
ANDREA SCAFI MORAES
ANGÉLICA FIGUEIREDO
CRISTANA MERCO
CRIS PENANTE
DORALICE CAVALCANTE
HERCÍLIO JACOB
JOSÉ CARLOS SARMENTO
JUCILÂNDIA GUEDES
LARISSA SUZANE
MURIEL BRASIL
PAULO ALEX S. MORAES
RODINEY DA SILVA PINHEIRO
JOANA RITA
GIOVANA
.................
Leonardina
JOANA RITA
Leonardina menina
GIOVANA
Orminda
ALESSANDRA FIGUEIREDO
Pescadores
HERCÍLIO JACOB/ MURIEL BRASIL
Caruanas
ALANA PRISCILA FREITAS
ANDREA SCAFI MORAES
ANGÉLICA FIGUEIREDO
LARISSA SUZANE
JOSÉ CARLOS SARMENTO
PAULO ALEX S. MORAES
.........................................
Operadores de câmera
RODINEY DA SILVA PINHEIRO
FRANCISCO WEYL
...........................................
Realizadores de cenas:
1) A Loucura de Leonardina
COLETIVO RESISTÊNCIA MARAJOARA
2) Caruanas
CRIS PENANTE
3) Pescadores
JOSÉ CARLOS SARMENTO
4) Cabana
ANDREA SCAFI MORAES
.................................................
Montagem:
FRANCISCO WEYL
.............................
Filmagem da cena
ALANA PRISCILA FREITAS
ANDREA SCAFI MORAES
CRIS PENANTE
HERCÍLIO JACOB
JUCILÂNDIA GUEDES
MURIEL BRASIL
.............................
Fotografia de cena
ALANA PRISCILA FREITAS
ALESSANDRA FIGUEIREDO
ANDREA SCAFI MORAES
ANGÉLICA FIGUEIREDO
CRISTANA MERCO
CRIS PENANTE
JUCILÂNDIA GUEDES
PAULO ALEX S. MORAES
....................................
Produção
COLETIVO RESISTÊNCIA MARAJOARA
.......................................
Experiência realizada no âmbito da oficina de Videoteatro “Dalcidiano”, sob a coordenação de
FRANCISCO WEYL
ISABELA DO LAGO
ROSILENE CORDEIRO
......................................
Agradecimentos:
Senhor Brito / Fazenda São Jerônimo
Departamento de Cultura / Prefeitura de Soure
E à comunidade da Vila do Pesqueiro
ALANA PRISCILA FREITAS
ALESSANDRA FIGUEIREDO
ANDREA SCAFI MORAES
ANGÉLICA FIGUEIREDO
CRISTANA MERCO
CRIS PENANTE
DORALICE CAVALCANTE
HERCÍLIO JACOB
JOSÉ CARLOS SARMENTO
JUCILÂNDIA GUEDES
LARISSA SUZANE
MURIEL BRASIL
PAULO ALEX S. MORAES
RODINEY DA SILVA PINHEIRO
JOANA RITA
GIOVANA
.................
Leonardina
JOANA RITA
Leonardina menina
GIOVANA
Orminda
ALESSANDRA FIGUEIREDO
Pescadores
HERCÍLIO JACOB/ MURIEL BRASIL
Caruanas
ALANA PRISCILA FREITAS
ANDREA SCAFI MORAES
ANGÉLICA FIGUEIREDO
LARISSA SUZANE
JOSÉ CARLOS SARMENTO
PAULO ALEX S. MORAES
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Operadores de câmera
RODINEY DA SILVA PINHEIRO
FRANCISCO WEYL
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Realizadores de cenas:
1) A Loucura de Leonardina
COLETIVO RESISTÊNCIA MARAJOARA
2) Caruanas
CRIS PENANTE
3) Pescadores
JOSÉ CARLOS SARMENTO
4) Cabana
ANDREA SCAFI MORAES
.................................................
Montagem:
FRANCISCO WEYL
.............................
Filmagem da cena
ALANA PRISCILA FREITAS
ANDREA SCAFI MORAES
CRIS PENANTE
HERCÍLIO JACOB
JUCILÂNDIA GUEDES
MURIEL BRASIL
.............................
Fotografia de cena
ALANA PRISCILA FREITAS
ALESSANDRA FIGUEIREDO
ANDREA SCAFI MORAES
ANGÉLICA FIGUEIREDO
CRISTANA MERCO
CRIS PENANTE
JUCILÂNDIA GUEDES
PAULO ALEX S. MORAES
....................................
Produção
COLETIVO RESISTÊNCIA MARAJOARA
.......................................
Experiência realizada no âmbito da oficina de Videoteatro “Dalcidiano”, sob a coordenação de
FRANCISCO WEYL
ISABELA DO LAGO
ROSILENE CORDEIRO
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Agradecimentos:
Senhor Brito / Fazenda São Jerônimo
Departamento de Cultura / Prefeitura de Soure
E à comunidade da Vila do Pesqueiro
Leituras, diálogos, laboratórios – para transcrever um texto em prosa (romance) para o teatro e deste para o audiovisual (em três dias). Isso não é tarefa simples, mas, a ela nos propomos, num coletivo com cerca de 20 jovens, náufragos, mergulhados nos signos destas linguagens e nos fortes símbolos sugeridos pelos riquíssimos elementos sinestésicos que compõem esta passagem “dalcidiana” (“O Marajó” – capítulo 34).
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