segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sou carpinteiro de poesia, mais não posso dizer...

Belém, 15 de setembro de 2009
Quando decidi investir minha obra neste projeto eu coloquei em jogo muito mais do que a minha produção artística. A minha forma de estar no mundo também foi lançada neste espaço quase imenso e sempre vazio que eu ocupo nesta coisa a qual denomino vida. Algo assim como um caminho sem volta. Uma baía - na qual eu apenas vou. Ou por sobre a qual eu vôo. Ou me deixo estar à deriva em suas correntezas-maresias. Nestes tempos de ventos fortes e águas altas, há uma sensação de que tudo é contracorrente, entretanto, eu tenho que seguir, pois que me coloquei neste barco não apenas como um timoneiro mas também como uma anônimo navegador. E assim aprendi os fluxos dos canais, nas suas próprias profundidades, do mesmo modo, descubro o quanto são rasos os bancos de areia, estes que nos fazem ficar horas a espera das águas mudarem nossas rotas num intervalo mais ou menos cronológico de seis horas. A subir e a descer. A favor ou contra, a depender da direção que tomamos, se em direção ao Camará ou ao porto de Belém.
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Tenho estado entre Soure e Belém desde o começo deste ano. E lá se foram nove meses, uma gestação, portanto. Só não contabilizo as horas que estive nesta baía porque eu sei que ainda estou com ela em mim. Este Projeto me proporcionou a abertura de uma possibilidade quase infinita, um encontro com as paisagens marajoaras, com o sentimento destas populações com as quais eu ainda estou a aprender.
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Carpinteiro de poesia
Sou carpinteiro de poesia, mais não posso dizer, meu destino está traçado pelas mãos do criador, eu escrevo mas não por obrigação e sim por uma necessidade universal.

MESTRE REGATÃO E AS CRIANÇAS DO PACOVAL
















CINECLUBE COM CARIMBÓ NO PACOVAL
















AS IMAGENS

As imagens estão todas lá, no espaço real em que elas se manifestam, entretanto, enquanto paisagens visuais, elas estão bem além dos olhos (e dos olhares), porque atravessadas pela história e perpetuados por uma tradição que não se fixa a um tempo, projetando-se na vida cotidiana e nas relações que as gentes marajoara estabelecem uns com os outros e com as culturas que eles produzem, a dança, o canto, a poesia, a arte, enfim, esta arte que afinal de contas lhes é negada, como se a ela não tivessem direito ou como se para que este direito lhes seja ofertado, elas tem que ascender a uma burcoracia estatal.
As imagens estão todas lá, com a sua dinãmica, entre a memória e o imaginário, como uma ponte suspensa por paradigmas que se constroem como muros-monolíticos e que são destruídos pela velocidade - não diria das teorias, mas nas práticas executadas pela sabedoria popular, identificadas com uma violência visceral, que se revela num permanente ensimesmamento de quem desconfia porque está farto de sua condição quase inumana.
As imagens dos filmes que projetamos não são reais, mas elas revelam estas realidades, ao mesmo tempo em que as colocam em estágio de uma espécie de insônia, em que não mais se pode adormecer, apenas sonhar.
Estas realidades, vevemo-las todos estes meses que temos estado no Marajó.

CINECLUBE NO PACOVAL
















Uma sessão histórica...
na qual as pessoas se vêem a si próprias e dessa forma se identificam não mais com uma imagem projetada, mas com seus projetos e com os seus sonhos, com a possibilidade real de que o cinema é uma arma que pode ser colocada ao serviço dos excluídos, que o cinema é uma trincheira capaz de se transformar em um espaço de defesa da ética e da cidadania...

CINECLUBE PACOVAL
















A fundação do Cineclube Pacoval foi um ato histórico que aconteceu no dia 12 de setembro de 2009.





A associação de moradores deste bairro organizou uma programação que contou com a participação do Mestre Regatão e do Grupo Tambores do Pacoval.





CINECLUBE NO CRUZEIRNHO








CINECLUBE CRUZEIRINHO

A sessão de inauguração do CINECLUBE CRIUZEIRINHO aconteceu no dia 11 de setembro de 2009, com a projeção do filme CHAPEUZINHO VERMELHO NO MANGUE, de Kátia Brito, atriz sourense, que também realizou um projeto de teatro no município, com a participação de diversos segmentos da cultura local. O filme é na verdade um vídeo-teatro desta experimentação. A criançada adorou.














CINECLUBE CIDADANIA
















Imagens da sessão de cinema de rua que inaugurou o CINECLUBE CIDADANIA, no Ponto de Cultura Reconquistando a Arte, a Cultura e a Cidadania, no dia 10 de setembro de 2009, em Soure, Marajó.

OFICINA DE PRÁTICAS DE MÍDIAS PARA A INTERNET

Prevista para ocorrer entre os dias 9, 10, 11 e 12 de setemebro de 2009, a oficina de práticas de mídias para a internet enfrentou alguns contratempos e acabou se transformando em um workshop de apenas um dia.
Ocorreram ruídos de comunicação entre eu e o professor Evanildo, diretor da Edda, escola onde realizamos a experiência, entretanto, ouso afirmar que os resultados foram positivos, porque conseguimos introduzir alguns conceitos (básicos) nos participantes, a maioria alunos do RESISTÊNCIA, além de outros alunos desta escola que foram indicados pelo professor Evanildo para participar do PIBIC JR.
Em linhas gerais, conseguimos construir dezenas de BLOG e apresentamos o YOUTUBE para os participantes (a ideia era fazer algum vídeo, montá-lo e postá-lo no YOUTUBE, mas isso se tornou impraticável pela fraca memória e pela lenta veocidade de conexão do laboratório da Edda, mas a gente apontou novo curso para final de outubro, quando retornarei a Soure e trabalharei no Ponto de Cultura Reconquistando Arte, Cultura e Cidadania - que se comprometeu em "arrumar" os computadores de forma a que ao menos o Windows Movie Maker a gente processe...)
Mas, o que mais importa, é que os jovens tomaram conhecimento e mesmo posse dos equipamentos teconológicos da Edda, criando e-mails e blogs, interessando-se necessariamente pela possibilidade latente que todos tem pela frente a partir de agora.
Assim sendo, segue a lista de blogs criados no ãmbito da oficina:

www.erikamarajoara.blogspot.com

www.leilabraga.blogspot.com

www.suzenascimento.blogspot.com

www.dilahta.blogspot.com

www.crisnoresistenciamarajoara.blogspot.com

www.cgf.blogspot.com

www.nascimentosilvane.blogspot.com

www.beatrizabdon.blogspot.com

www.gatamarajoara.blogspot.com

www.preciosaangelica.blogspot.com

www.alessandrapreciosa.blogspot.com

www.marleidesantos.blogspot.com

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Montagem do videoteatro:

Apesar de eu não ter interferido na montagem, muito daquilo parece que foi feito por mim, a seqüência é a mesma pensada anteriormente, isso com certeza é fruto da apreciação sensível que também deve ter crédito na convivência e na segurança do fazer experiente.

Mas ainda assim, não me sinto de todo contemplada, se possível, senhor coordenador, me deixa montar, ou brincar de montar, já que quero fazer isso para complementar o aprendizado que tive na experiência do projeto.

Nesta brincadeira de montagem, eu, em primeiro lugar, eu trocaria o “criativo” título de A Lenda da Cobra Grande, para Sucuriju: o suspiro da princesa encantada (que foi a história narrada pelo Sr. Ilário, que não se trata de lenda, e sim da representação do mito da Cobra grande segundo a encantaria, ou pena e maracá como ele mesmo coloca), por isso também devolveria o batuque de mina e mandaria pro espaço o lost in transition, muito bonita a sonoridade, mas deixou com cara de clip de banda emo norteamericana, nada igual às rudes montagens sonoras que com o custo de longas horas de batalha aprendi a fazer, bem é só uma proposta, uma observação com a preocupação de quem tentou fazer um trabalho sem muitos artificialismos com a proposta simples de que os jovens se permitissem vivenciar algum nível de delírio, mesmo falando dos temas reais da cultura local.

Infelizmente nem todos os participantes viram a projeção do videoteatro, mas quem viu ficou muito contente, eu fiquei também, por isso aqui eu agradeço a oportunidade de ter trabalhado nesta ação, já disse tanto em outras vezes, e não sei se fiz o suficiente, muito embora, para este fim de trabalho eu tenha pensado tantas coisas que não consegui realizar, fico aqui com os 50 contos trocados por serviços de acompanhante e a memória dos acontecimentos no campo de trabalho, tenho já alguma saudade, mas estou me despedindo, espero poder rever o Marajó em outras circunstâncias, e que o Resistência Marajoara não pare por aqui, ganhe força e vigor, deixo um forte abraço a todos, fecho as cortinas em aplausos astrais para toda a gente que colaborou com o videoteatro.

Isabela do Lago

Cineclube

:)LUZ: Assim devemos encarar a atividade cineclubista, e quem me disse isso foi a atitude absolutamente performática das crianças do Pacoval correndo atrás do foco do projetor no meio da roda de carimbó, os olhinhos arregalados, os corpinhos franzinos e ágeis, tanta alegria, tanta alegria, ai que tanta alegria! Luz, minha gente, luz, formando imagem, me senti tão emocionada com as crianças e os velhos naquela vivência que foi buscar minha memória ancestral, que coisa mais bonita de se ver.

Segundo Luria (1981), é lógico encarar a percepção da luz como função dos elementos fotossensíveis da retina e dos neurônios altamente especializados do córtex visual a ele conectados, por isso afirmo:quer um trabalho de educação comunitária para a liberdade criativa? Então faça cineclube, a imagem projetada e a imagem sentida se entrelaçam nos cabelos da percepção, fazem milhões de trancinhas multicoloridas, mantêm a atividade intelectual ativa proporcionando emoções que impregnam os músculos, desenhando atitudes corporais, e o ato de representar essas emoções é cortical, é aprendizado emocional joga pro mundo liberta e transforma o ser cultural, façam arte com as crianças e projetem no cineclube.

O cineclube no Pacoval culminou com o fim da oficina do Rômulo, estavam todos felizes com seu instrumentinhos artesanais, tocando com o mestre Regatão, outros adultos orquestrando nos curimbós, nas maracas, os pais, as mães, os avós, foi para mim a cena mais bela de toda a vivência deste projeto, uma autêntica roda de carimbó, deixei naquele chão de terra algumas lágrimas, porque anteriormente temi aquele momento, mas ele foi tão leve e simples e belo que me emocionei.

E também houve o cineclube para o grupo mirim do Cruzeirinho, lá as crianças tinham outra postura, mais sentadinhas, mais em fila, “quem ficar sentado ganha pirulito” dizia confiante e sorridente a Sra. Amélia, mas também eram crianças alegres, e o carimbó com elas.

Na projeção defronte ao ponto de cultura, conseguimos fisgar alguns passantes, alguns moradores vizinhos, alguns dos participantes do projeto compareceram, nem todos ficaram até o final, mas quem viu seu trabalho no telão voltou pra casa cheio de orgulho, isso é muito positivo mas vamos torcendo para que não fique por aí.

Oficina:

Foi bom e sempre é bom estar no Marajó, amo o brilho do olhar das pessoas, as peles, as ruas largas de Soure, o sol com luz dura, a terra está seca, o vento forte fez o barco jogar bastante na ida, mas o balançar da maresia foi pra mim o aconchego doce da natureza me ninando, lindo e profundo Marajó.

A oficina na escola Edda Gonçalves não foi das melhores, houveram contratempos entre a fala acelerada do Francisco e a compreensão descompassada do Diretor da escola, e eu ali, achando que poderia ajudar em alguma coisa. Isto sem falar na limitação com o Linux, onde eu confesso e lamento minha ignorância, mas lamento mesmo é a gestão da escola no laboratório de informática (e ao que me parece, de acordo com experiências anteriores, em todas as escolas acontece assim) se é para popularizar o acesso dos estudantes, se é para informatizar a educação, se é apara alargar horizontes e tudo mais que reza a cartilha dos tais laboratórios, porque não conseguem confiar no estudante? Porque a presença de um verdugo criticando o uso que os alunos fazem do computador? Que modelo de educação é esse? O laboratório parece um campo de concentração de condenados ao uso limitado das ferramentas “EDUCATIVAS” da internet, numa proposta centralizadora e condenatória gerando insegurança ao invés de aprendizado, o resultado desse jogo é o mesmo pavio curto das trincheiras obscuras da sala de aula, em que poder e saber resolvem-se na equação de resultado exato da nota que dá para passar de ano.

Educadores abram os olhos, precisamos de um futuro mais seguro, colaborativo, produtivo e nossa juventude está sempre submetida a esta matemática nunca abstrata onde o desenvolvimento socioafetivo e as demais sensibilidades necessárias da percepção não têm espaço sequer na hora do recreio.

Isabela do Lago