DIÁRIO DE BORDO
...Segunda, 30 de abril de 2009
...Segunda, 30 de abril de 2009
... muitas vezes eu tenho vontade de relatar, mas não um relato temporal, apesar de cronológico, porque a escrita da História não é como a da arte...
... e eu pretendo deixar estas marcas...
... um projeto, ele se faz, na dinâmica dos fatos, na vivência intensiva de seus intestinos ou dos instintos de quem acredita nele, porque, afinal de contas, há que ter um projeto como um sonho, depois, o resto é crença...
... sempre tive projetos, sempre acreditei em sonhos e quando estes sonhos tornam-se eles próprios nas suas realidades cognitivas, quando estes sonhos, mais que individuais, tornam-se coletivos, quando sinto que estes sonhos são também sonhados por outros seres humanos que não eu, eu sinto que há uma convergência inexorável do universo, uma conspiração como se diz, mas não necessariamente ao meu favor...
... porque não existem acasos...
... há pois a escritura, como disse Derrida, e toda ela se processa em linguagens, códigos com os quais estabelecemos relações de representação e correspondência, como se aranhas fôssemos, nesta teia que nunca finda...
... e a palavra teia súbito traduz os espaços possíveis de uma certa contemporaneidade, este conceito esquizofrênico e capitalista em que os seres humanos são apenas indivíduos quando possuem propriedades...
...aí os conhecimentos livres sucumbem a pequenos pensamentos e o bicho homem coisifica-se com o seu stress e a sua incansável necessidade de produzir culturas e pagar dívidas para que então elas possam justificar porque eles precisam comprar o que de fato não desejam...
... seus desejos inventados cobrem-lhe o rosto com mentiras, mundo falso e mascarado, onde estão confusos os valores, porque hipócritas e incapazes de sustentar os fracos...
... como eu não tenho nada, nada tenho que perder...
... despido este manto urbano, recolho do fundo de um baú as vestes de um palhaço que eu próprio o sou nesta capital na qual eu não nasci e estendo-a nas praças e ruas de um município que ainda haverei de descobrir, com o tempo...
... ali em Soure poderei enfim encontrar estes povos ribeirinhos, estes povos das águas, estes povos das florestas, cujas vidas eles vivem sem que eu tenha alguma coisa que ver com isso...
... mas por que eu vou então lá¿ o que é afinal de contas que eu irei lá fazer¿...
... porque quem diz lá diz em qualquer lugar mas quem diz lá identifica este lugar, isso já é por si só uma matriz, o resto é decalque...
... um lugar não pode ser qualquer outro lugar que não ele mesmo, logo não levo nada nesta bagagem, apenas estes sonhos que ainda os estou a sonhar...
(...)
... desde quando soube deste edital que não parei de pensar nele, algo me chamava, o futuro, talvez, ou esta coisa que vamos construindo com a experiência...
.. e isso foi um fenômeno coletivo entre todos mas vivido na esfera do individual...
... esta é cena do corredor, o individual em jogo com o coletivo de tal forma tão fecunda e confusa que acabamos por não mais perceber onde um e outro começam e/ou terminam, se se suprimem, se se aglutinam, se se conflitam, se se descuidam...
... todos os frutos amadurecem, mas, alguns, apodrecem, outros, nem brotam...
... o edital me despertou e desde então pensei tanto nele que eu senti que o ganharíamos, o sonho acabou...
... agora há que despejar no lixo estas velhas teorias e estes velhos diálogos e estas velhas conversas, o planeta ecológico também se recicla...
(... )
... pergunto-me se um dia esta História será contada, enquanto a narro, enquanto ela vai sendo narrada...
(...)
©
Francisco Weyl
Carpinteiro de Poesia e de Cinema
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