quarta-feira, 20 de maio de 2009

DIÁRIO DE BLOG - QUARTA, 13 DE MAIO DE 2009 – 21H30MIN

DIÁRIO DE BORDO
... SOURE, QUARTA, 13 DE MAIO DE 2009 – 21H30MIN


Escrevo agora mais por necessidade do que por vontade, estou cansado e pronto para dormir, sentado à rede da sala, com as janelas abertas, está quente e os insetos, sempre presentes...
Gostava de ter melhor descrito a viagem que fiz nesta segunda, 11de maio, barco cheio, atrasado – mais tarde vim saber que por ser fim de mês muitos sourenses ou residentes em Soure vai receber $ em Belém, benefícios, pensões, etc.- muito vento, maresia (e eu sai de casa às pressas, sem almoças, pedalando (já que trouxe a minha bicicleta, enquanto o taxi trazia o resto da bagagem, o computador portátil do qual não me separo, a mochila com roupas e uma caixa de mantimentos), sem dúvida, a viagem + original de todas que eu fiz a Soure – e cansativa – porque, depois de passar pela fila para a compra de bilhetes e pousar finalmente no barco as minhas coisas e mais tarde – no Camará – retirar outra vez tudo isso que eu transportava, dividi o frete de um velho carro do seu Luís (“Barra Pesada”, como ele próprio fez questão de se anunciar), e vir á boléia deste carro, feito peão, em meio às outras cargas que ali transportadas, sob uma persistente chuva fina e entrando em pequenas localidades de Salvaterra onde as pessoas desciam retirando as suas cargas e aliviando a boléia, acabei por ser o último a descer, chegando a Soure por volta das 8 da noite, depois da travessia na rabeta, já que não havia mais balsa naquele horário, e logo soube que a maioria das coisas que eu havia deixado aos cuidados de dois amigos, a Bia e o Luca, estavam molhadas, roupas, cassetes e mesmo as bolsas com os equipamentos, que por sorte também não foram apanhadas pelos constantes temporais que desabam sobre o Marajó neste período do ano,a final, dormi, exausto, choveu bastante durante esta madrugada, amanheceu chovendo na terça e eu me atrasei um pouco para a aula já que precisei retiraras coisas das malas molhadas e colocá-las para apanhar sol, fui buscar a chave do Centro Espírita (onde acontece a oficina do grupo da manhã, terças e quintas), mas o André demorou um pouco para encontrar a chave, e quando finalmente – de taxi e com os equipamentos todos, câmera, projetor, telão, caixas de som, disco externo, computador - eu chego ao Centro, não havia nenhum dos dois alunos que haviam participado das entrevistas que consistiam no primeiro exercício do Projeto, entretanto, esperei e mais uma nova aluna apareceu, conversei com ela, expliquei-lhe o básico da oficina, voltei para casa, deixo os equipamentos e controlo se o tempo está de fato a arejar os meus objetos e roupas molhadas, aproveito também para limpar a casa, faço uma faxina completa, passo veneno para carrapatos, o proprietário da casa aparece, suspendo o trabalho, pago-lhe o aluguel, digo que depois ele assina o recibo, trato de pendências de água e luz que ele insiste em dizer que as faturas são minhas quando eu sei que há atraso, pelo que terei de ir à Celpa e na Cosanpa, resolver estas pendências e esclarecer o que é meu e o que é do proprietário, retorno ao trabalho da limpeza da casa mais uma vez, e assim o dia passa, a tarde chega, quando finalmente recolho as roupas do varal, tomo banho, já é noite, saio á pedalar, no caminho, observo uma pintura na parede de uma casa, paro para perguntar sobre o autor – é “ODI”, diz-me a senhora – e descubro que ela é mãe de um aluno da oficina, ela fala sobre o ODI, que me parece uma linha interessante de investigação, tal qual é o projetor e o projecionista, as projeções realizadas no auditório Santo Agostinho e que podem fundar a trilha histórica do cinema em Soure, mas lamento não ter naquele momento a máquina fotográfica em mãos, para obter uma fotografia, comprometo-me em retornar para fazer fotos e saber mais sobre ODI, suas obras, e onde as mesmas estão localizadas, já que ele é chamado pela comunidade para pintar nas paredes das casas, tal qual ele pintou o “Sossego” na casa da mãe de meu aluno Edivan, despeço-me e saio a pedalar novamente, quando vejo uma casa com uma grande aglomeração de pessoas, aquele movimento me desperta uma curiosidade absoluta, fico a saber então que é ladainha de Santa Rita, vou a casa buscar a máquina fotográfica e começo a fazer fotos – penso: mais uma linha de pesquisa que se abre, as festas religisosas-, o cortejo sai desta casa em direção a uma outra residência, vou fazendo as fotos, com flash, que necessariamente chama a atenção das pessoas, uma senhora de nome Ana Júlia me procura e me convida a fazer fotos no sábado, quando Santa Rita chegará a sua casa, ela também quer que eu fotografe a ladainha na sua casa no domingo, pergunta-me quanto eu cobro por isso, digo-lhe que faço isso por prazer, de graça, que quero apenas que ela me compre um DVD virgem, fechamos negócio, vou fazendo fotos da romaria até que a Santa entra em uma outra casa, quando a romaria acaba, mas, então vem a meninada, no caminho a pedir que eu lhes fotografe, e assim vou fotografando, disparando flashs, por onde passo de bicicleta, há jovens que me podem que faça fotografias, despreocupado, sigo meu percurso, nesta rotina noturna, todo contente com a minha produção,a te que retorno à casa para deixar a câmera fotográfica, saindo de seguida para jantar, entretanto, no caminho sou abordado por uma senhorita, que vem de moto, e eu de bicicleta, de forma educada, ela pergunta se era eu que estava a fazer fotos lá na comunidade, respondo que sim, ela se apresenta como Cabo Margareth, e me diz que recebeu uma ligação das pessoas da comunidade, que estavam apreensivas com as fotos que eu estava a fazer da meninada, apresentei-me a ela, expliquei-lhe meus objetivos, esclareci a questão, sigo até o restaurante, mas, enquanto espero pelo pedido, sou mais uma vez abordado por um senhor, vereador, de nome Abdon, que estava bastante nervoso com a chamada telefônica de sua esposa, pelo que ele queria saber porque eu fiz fotos de seu filho, que, penso eu, deveria ser um dos muitos que me rodeavam a pedir que os fotografasse, então, fiquei mesmo preocupado com a repercussão de meu trabalho, conversamos eu e este senhor mas penso que ele não conseguia me escutar, portanto não conseguiu perceber que estas fotos fazem parte de um percurso de projeto, um mapear por assim dizer das manifestações culturais, populares e religiosas da comunidade sourense, e que a meninada foi apenas uma circunstância por insistência deles mesmos quando eu ia passando ao longo das ruas pelas quais passam as romarias de Santa Rita na comunidade do Bairro Novo, onde também estou a morar, sem nenhuma má-fé, então, o senhor deixou o restaurante, eu perdi o apetite, voltei para casa, até que depois de um longo tempo eu consegui dormir, já que na manhã seguinte eu precisava fazer uma série de coisas, entre as quais preparar e ministrar aula, então, saio de casa e no caminho encontro logo com a Dona Ana, a senhora que havia pedido que eu fotografasse a chegada da santa na sua casa, no sábado, e a ladainha, no domingo, expliquei-lhe os transtornos do dia anterior e informei que eu iria falar com o Padre, pedir-lhe uma orientação sobre como proceder com estes caso de forma a dirimir os mal entendidos com relação aos meus interesses e objetivos, mas, antes de falar com o Padre, eu fui entregar as chaves do Centro Espírita, que eu havia esquecido de devolver no dia anterior, fui à Cosanpa e à Celpa e fiquei então a saber do valor das contas atrasadas que eram da responsabilidade do proprietário, fui aos Correios sem conseguir enviar o Relatório do Projeto (mês abril) para a Daniela Sampaio, da Funarte, porque só havia um caixa na agência para atender mais de 40 pessoas, a maioria delas interessadas em realizar operações bancárias, então, decidi-me por ir ter com o Padre Adenilson, que é jovem, e estava a jogar futsal com os seminaristas, recebeu-me muito bem, escutou-me, apresentei-lhe o projeto, pedi-lhe autorização para fotografar as romarias de Santa Rita, ele então me orientou a não mais fazer fotografias por enquanto, até que ele lesse o projeto de forma a saber os meus objetivos, do mesmo modo ele sugeriu que eu apresentasse o Projeto no conselho Tutelar, entidade a quem procurei e pela qual, através do seu coordenador, eu fui orientado a fazer um Ofício endereçado tanto ao Conselho, quanto ao COMDAC, ao Juizado da Infância e Adolescência e ao Ministério Público, apresentando o Projeto, indicando qual o meu público, o local de realização das aulas, etc., o que fiz ontem e hoje, ampliando esta apresentação também às Polícias Militar e Civil.
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©
Francisco Weyl
Carpinteiro de Poesia e de Cinema

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