segunda-feira, 8 de junho de 2009

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chapéu de palha à cabeça (custou-me R$ 4,00), até que me pareço com as gentes daqui, mas súbito deduzo que os marajoaras já nem mais utilizam esta indumentária, do mesmo modo, carimbó também não se dança nas festas de aparelhagem e assim sendo começo a perceber que há muito algumas tradições perderam o seu espaço entre os mais jovens, que passaram a absorver todo o lixo da indústria cultural, nele incluídos todos os tipos de comportamentos e modas, tomando-os como um novo estilo em detrimento dos jeitos de ser dos mais velhos, seus antepassados, que de alguma forma acabam por ficar soterrados, com os seus conhecimentos e ensinamentos desprestigiados diante de tais valores, mas isso acontece de uma forma tão natural que há quem pense – se é que alguém pensa alguma coisa sobre isso – que tudo isso é normal e que não há nenhum tipo de violência nestes acontecimentos, que eles não representam choques, mas mudanças, fenômenos dos quais todas das sociedades e culturas não podem abrir mão para que possam se desenvolver, interpretação, aliás, não de toda incoerente, entretanto, este é um modo senão cego ao menos caolho de ver as coisas, porque no Marajó, o processo de relação entre as culturas é de quase genocídio, ou seja, por um lado, as tradições silenciosamente são passadas de gerações a gerações, enquanto que as mídias – sempre a privilegiar as capitais e os espaços urbanos – fazem um alarde desenfreado (talvez para justificar e legitimar o massacre das neuropsicoses globais), destroçando qualquer perspectiva de respeito aos conhecimentos tradicionais, desvalorizando-os e cultuando o lixo pós-moderno, sem nenhum resíduo educativo, o que significa dizer ao nível de uma superficialidade cujos horizontes são quase que apagados das mentes das populações locais, a quem resta apenas consumir o novo como um valor definitivo, entretanto, este novo fatalmente vem de fora para dentro ... pasteurizado, padronizado...
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© Francisco Weyl

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