segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O PROJETO

Residência & resistência artística em pontos de cultura: Construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó
1. Objetivos
Realizado através do Ponto de Cultura Reconquistando Arte, Cultura e Cidadania (Soure), o Projeto Residência e resistência artística em pontos de cultura - construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó, possui os seguintes objetivos:
1.1 Gerais
Realizar um filme coletivo com a comunidade de Soure.
1.2 Específicos
Contribuir para a redução do apartheid social, educativo e artístico do país.
Colaborar para a construção de focos de organização social.
Fortalecer as relações de parceria entre o Ponto de Cultura Reconquistando Arte, Cultura e Cidadania (Soure), os criadores artísticos e a comunidade do Município, localizado na Ilha do Marajó, Estado do Pará, Região Norte, Amazônia Brasileira.
Estimular a produção audiovisual com a tecnologia disponível na comunidade de Soure;
Instrumentalizar a produção do audiovisual em favor da conscientização das populaões de baixa renda, sem acesso às criações artísticas e às produções culturais;
Ampliar as ações sócio-educativas do Ponto de Cultura Reconquistando Arte, Cultura e Cidadania (Soure), colocando a comunidade em permanente contato com os criadores artísticos e produtores culturais.
2. Justificativa
"Durante 477 anos se cozinha uma literatura idealista e opressora que se produz e se divulga nos salões da casa grande, se processa uma literatura idealista e outra materialista na varanda (a luta de classes no Brazyl se metaforiza ou é sublimada no interior da classe média). Não se processa nenhuma senzala negra e se processa numa popular chamada folklore, sobretudo nos sertões mas esta literatura gravada, transcrita e impressa nos célebres cordéis e modelos menores, nasce recitada, cantada, porque seu criador, seja o profeta barato estilo Antônio Conselheiro de Canudos, sejam cangaceiros, flagelados, romeiros videntes ou cegos; são discursadores decadentes de sebastyanysmo, rezadores, cantadores mas, por analfabetismo e pobreza (sem pena e papel), não sabem nem podem escrever".
Glauber Rocha. Heuztorya, do livro inédito: "A última Flor do Lacyo"
©Tempo Glauber
Há muitos olhares sobre a Amazônia, mas a maioria desses olhares parte de fora para dentro, como se a Amazônia fosse habitada por pessoas incapazes de ver o espaço em que habitam.
João de Jesus Paes Loureiro diz que no auge da economia da borracha a elite paraense importava a cultura 'alienigena' e relegava a produção local à própria sorte, e com isso se moldava o gosto estético pela cultura estrangeira que era absorvida como signo de refinamento e distinção social [In Artes visuais na Amazônia. FUNARTE/ SEMEC: Rio de Janeiro/ Belém. 1984.]. E essa situação ainda é percebida mesmo nas últimas décadas do séc. XX, como registra a letra de Edmar Idálio para a música "Belém, Pará, Brasil", cantada pelo Banda Mosaico de Ravena, que na década de 1980 ainda se ressentia por que "o que é bom vem lá de fora" [No disco "Cave Canen", Belém: _____, 1982].
Assim podemos perceber que aqui também se difunde a desconstrução social artístico e cultural de outras origens diferentes do modelo eurocentrico e que o sentimento de pertencimento regional é alterado a todo o momento pelos interesses da elite que dita as regras das políticas públicas para a cultura, principalmente quando as diretrizes políticas estão aliadas aos interesses da industria cultural e numa sociedade consumista, que prioriza as artes e as culturas externas e/ou investe somente naquilo que se parece com, ou é aceito pelo circuito artístico globalizado e colonizador que ainda nos serve de modelo, e que anula e diminui todo o processo agregador e potencializador do que nos é tradicional por outras vias que não seja de heranças européias.
Os equipamentos tecnológicos, aos quais a Amazônia não tem acesso e dos quais a Amazônia não pode abrir mão, estes, são usados por grandes potências capitalistas que se têm aproveitado das riquezas naturais e da biodiversidade amazônica.
Debater a Amazônia, lógico, é mais do que necessário, mas, ao contrário de resultar em alternativas, essa produção de idéias se dispersa em eventos pontuais, sem que as comunidades obtenham para si o retorno intelectual de tais encontros.
Sem visibilidade e sem o conhecimento e o aprofundamento de tais idéias por parte das populações amazônicas, essas temáticas, discutidas ou simplesmente impostas, tornam-se estéreis.
É necessário, portanto, aprofundar e difundir tanto o pensamento teórico quanto as práticas vivenciadas nesta estratégica Região, relacionando-as em busca de pontos convergentes caracterizados por práxis reais.
Como ensinou Thiago de Melo, ícone da poética luta em defesa dos povos das florestas, só se ama aquilo que se conhece.
E nós, amazônidas, amamos a Amazônia.
Dentro deste contexto, este Projeto apresenta-se com o intuito de preencher uma lacuna no campo audiovisual, através da realização de um conjnto de oficinas sócio-educativas, que convergem para a construção de um filme documental, necessariamente, reforçando o audiovisual como instrumento de desenvolvimento da consciência e da cidadania humana.
Desenvolvido como um instrumento de formação e de divulgação artística, antes de tudo, este Projeto possui um carácter inédito e revelador: depois de concluído, será o primeiro documento no campo audiovisual construído de forma coletiva sobre a comunidade de Soure, pela própria comunidade de Soure, portanto, a partir do olhar que o próprio habitante deste Município tem do seu espaço.
3. Descritivo das possibilidades de interação e integração com a dinâmica de ações do Ponto de Cultura Reconquistando Arte, Cultura e Cidadania (Soure)
O Ponto de Cultura Reconquistando Arte, Cultura e Cidadania (Soure) está localizado na Ilha do Marajó, que em tupi significa “barreira do mar.
De 49.606 Km2, a maior ilha fluvial do mundo não tem as mínimas condições de infra-estrutura econômica, em todos os setores.
Concentração da renda e elevados índices de mortalidade infantil caracterizam as contradições da Região.
A economia da Região é primária e se baseia no extrativismo vegetal, na pesca, na pecuária extensiva e na agricultura de subsistência.
O PIB de toda a região em 2003, da ordem de R$ 853 milhões, correspondia a apenas 2,9% do PIB total do Pará.
O PIB per capita, de apenas R$ 2.119,00, equivalia a 48% do PIB per capita paraense e a tão somente 24% do PIB per capita médio do País.
Com uma população de 22.063 habitantes, segundo dados de 2007, do Instituto Brasileiro Geral de Estatísticas, o Município de Soure tinha 12.369 pessoas abaixo da linha de pobreza.
O IPEA apontava a existência de 35.670 famílias abaixo da linha de pobreza em todo o Marajó (cerca de 40% do total de famílias).
O Índice de Desenvolvimento Humano de Soure é de 0,720 (Idh m); 0,860 (Idh educacional); 0,750 (Idh longevidade); e 0,560 (Idh renda).
É dentro deste contexto que este Projeto surge para atender a uma demanda da sociedade local, expressa a partir da manifestação de pessoas e grupos articulados à produção cultural da Região e que dizem respeito à necessidade de que sejam organizadas agendas de intervenção artística e social voltadas, especialmente, à comunidade, necessariamente, com a participação desta como propositora, provocadora e executora.
Este Projeto faz parte de uma nova concepção que vem sendo construída na Amazônia e se materializa em práticas artísticas e sociais que envolvem as comunidades locais, enquanto pilares das atividades inovadoras, que possibilitam a melhoria da qualidade de vida das pessoas, o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação do meio-ambiente, motivo pelo qual ele será desenvolvido a partir de processos e dinâmicas capazes de interepretar as contradições dialéticas deste processo histórico, superando-o de forma artística, com intervenções concretas nas áreas de atuação urbana e rural do Ponto de Cultura Reconquistando Arte, Cultura e Cidadania (Soure).
4. Descrição detalhada do planejamento de execução e do produto final previsto
As Oficinas do Projeto Residência e resistência artística em pontos de cultura - construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó, pela especificidade e abrangência de seu caráter, será desenvolvido durante seis meses, subdivididos em três fases, que compreendem quatro oficinas transdisciplinares, convergentes para o desenvolvimento de um filme coletivo.
Assim sendo, estas são as fases do Projeto:
Fase Preparatória (Articulação): Interação/tema gerador (Mês 1)
Fase Prática (Oficinas): Aulas teóricas/exercícios práticos (Meses 2, 3, 4 e 5)
Fase final (Exposição): Finalização/aglomeração (Mês 6)
4.1 Fase Preparatória (Articulação): Interação/tema gerador
Esta Fase é a base de todo o Projeto, e depende, necessariamente, do apoio e das parcerias comunitárias.
A coordenação do Projeto, em conjunto com os parceiros locais, divulga, mobiliza, seleciona e qualifica os participantes das oficinas.
Em linhas gerais, as ações desta fase são as seguintes:
A. Mapeamento Comunitário (levantamento das escolas, associações de moradores, grupos culturais, igrejas e empresas).
B. Contatos (Reuniões com estas instituições e empresas para apresentar o Projeto)
C. Identificação e estruturação de parcerias comunitárias e definição global das atividades do Projeto.
D. Divulgação do Projeto à comunidade.
E. Seleção dos alunos que participarão das oficinas.
4.2 Fase Prática (Oficinas): Aulas teóricas/exercícios práticos
Nesta fase, os participantes do Projeto são convocados a participar de diálogos, estudos, jogos e exercícios em que poderão trocar experiências e encaminhar os seus projetos específicos.
Composta de aulas teóricas e práticas, estes momentos caracterizam-se por quatro oficinas transdisciplinares, a saber:
Audiovisual: roteiro, produção e realização
Práticas de intervenção itinerantes
Teatro: construção de personagens e objetos (máscaras, figurinos, adereços)
Musica: sensibilização e construção de instrumentos
As oficinas decorrerão durante quatro (04) meses, tempo previsto de duração da segunda fase do Projeto.
Por uma questão metodológica, a oficina de Roteiro, produção e realização audiovisual será a primeira a ser ministrada, prolongando-se durante todo o projeto, intercalando as aulas ministradas nas demais oficinas.
4.3 Fase final (Exposição): Finalização/aglomeração
Nesta fase, haverá a montagem do filme realizado, assim como a sua estréia na comunidade, com a realização do Circuito Comuniário para a exibição deste filme nos espaços comunitários, previamente definidos da primeira fase do Projeto.
5. Planejamento
Este Projeto pressupõe um conjunto de três fases, cujo início está pevisto para o mês de abril de 2009.
Nesse sentido, este Pojeto será executado da seguinte forma:
FASES
MÊS / ANO
ACÇÕES OPERACIONAIS A SER DESENVOLVIDAS
Abril / 2009
Mapeamento Comunitário (levantamento das escolas, associações de moradores, grupos culturais, igrejas e empresas).
Contatos (Reuniões com estas instituições e empresas para apresentar o Projeto)
Identificação e estruturação de parcerias comunitárias e definição global das atividades do Projeto.
Divulgação do Projeto à comunidade.
Seleção dos alunos que participarão das oficinas.
Maio / Junho / Julho / Agosto / 2009
Oficinas:
Audiovisual: roteiro, produção e realização
Práticas de intervenção itinerantes
Teatro: construção de personagens e objetos (máscaras, figurinos, adereços)
Musica: sensibilização e construção de instrumentos
Setembro / 2009
· Montagem do filme
· Circuito comunitário de filmes
6. As oficinas
O Projeto Residência e resistência artística em pontos de cultura - construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó compreende a realização de quatro oficinas transdisciplinares, assim distribuídas:
Audiovisual: roteiro, produção e realização
Práticas de intervenção itinerantes
Teatro: construção de personagens e objetos (máscaras, figurinos, adereços)
Musica: sensibilização e construção de instrumentos
Os participantes destas oficinas terão aulas teóricas e exercícios práticos sobre os fundamentos históricos, teóricos e técnicos das artes em geral, com particular ênfase ao cinema, ao teatro, à poesia e à música, passando, necessariamente, pelos três momentos de desenvolvimento de um projeto cinematográfico (pré-produção, produção e pós-produção), antes de realizarem e exibirem o filme, alvo deste Projeto.
As aulas das oficinas serão realizadas em espaços comunitários públicos, como praças e também espaços fechados como escolas, associações de moradores e centros comunitários, de acordo com a definição do calendário do Projeto.
As Oficinas serão dirigidas aos jovens na faixa de 17 a 25 anos, sem necessidade de experiência prévia na área.
A participação no projeto coloca o aprendiz em contato com diversas linguagens artísticas e possibilita o contato e o intercâmbio com produtores culturais com experiências distintas, e pode também incentivar a produção em outras áreas artísticas.
O Projeto atenderá especialmente a população de baixa renda de Soure.
O filme realizado no âmbito deste Projeto será proposta à exibição nos programas televisivos regionais e nacionais, além de festivais de cinema brasileiros e internacionais.
7. Estrutura
Uma sessão pública de cinema marcará o início do Projeto Residência e resistência artística em pontos de cultura - construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó, seguindo-se da apresentação da estrutura do mesmo aos participantes e à comunidade em geral.
Além de ser convidado a visualizar e a interpretar os filmes exibidos nessas sessões, o participante das oficinas será estimulado a se utilizar dos elementos cinematográficos apresentados e discutidos durante as aulas, onde ele irá desenvolver idéias e argumentos esboçados durante as oficinas.
As atividades teóricas e práticas dos diversos encontros serão apoiadas em leituras e interpretações de textos, exibição e análises de filmes e exercícios práticos de diversos matizes artísticos.
8. Seleção
A seleção dos participantes do Projeto Residência e resistência artística em pontos de cultura - construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó será realizada depois de avaliadas as respostas dos candidatos à Ficha de Inscrição e à entrevista individual.
9. Sessões Públicas
O Projeto Residência e resistência artística em pontos de cultura - construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó promoverá um conjunto de 10 sessões públicas de cinema para a comunidade de Soure, que serão realizadas da seguinte forma:
1 sessão no primeiro dia da Oficina (aula inaugural).
4 sessões, sendo uma por mês (aulas abertas) durante todo o desenvolvimento das quatro oficinas que compõem este projeto.
1 sessão no final da Oficina (mostra do resultado final).
5 sessões durante as sessões públicas do Circuito Comunitário, que ocorrerão de forma itinerante em espaços comunitários públicos, como praças e também espaços fechados como escolas, associações de moradores e centros comunitários.
10. Estimativas
Estima-se que este projeto alcance uma audiência não inferior a 10 mil pessoas, entre participantes de oficinas, os seus familiares, e pessoas da comunidade que participarão das atividades públicas e das sessões do cirucíto comunitário de filmes, previstos no Projeto.
Assim sendo, podemos resumir este Projeto da seguinte forma:
Duração do Projeto: seis (06) meses.
Carga horária mínima de cada uma das oficinas do Projeto: 60 horas
Público alvo do Projeto: Jovens carentes entre 17 e 25 anos .
Máximo de participantes por oficina: trinta (30) jovens.
11. Coordenação
As oficinas deste Projeto serão coordenadas por quatro profissionais que acumulam créditos e responsabilidades fundamentadas nos seguintes pontos:
Nos seus conhecimentos históricos e culturais;
Nas suas experiências artísticas;
Nas suas capacidades de articulações sócio-culturais;
Nas suas responsabilidades para encaminhar projetos deste carácter.
A coordenação do Projeto Residência e resistência artística em pontos de cultura - construindo um filme coletivo em Soure, Ilha do Marajó ficará sob responsabilidade do realizador e professor de cinema Francisco Weyl, que tem larga experiência em atividades de caráter artístico, social e educativo no Brasil e fora do país.
12. Orçamento
As despesas do roçamento agrupam-se em despesas com recursos humanos e recursos técnicos.
Assim sendo, de acordo com o Orçamento, serão necessários para a execução deste Projecto o seguinte montante financeiro:
R $ 50.000,00 (CINCOENTA MIL REAIS)

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