segunda-feira, 8 de junho de 2009

DIÁRIOS DE BORDO...

Soure, quarta-feira, 3 de junho de 2009, 18h

... mais uma vez sem telefone, já estou começando a me acostumar com isso, até porque internet quase não a utilizo aqui, embora agora me ocorra que o Hilton me falou que o professor Flávio está a espera de um e-mail meu, talvez para combinar uma vinda dos alunos de Antropologia da Imagem da UFPa, quem sabe para um diálogo sobre este Projeto, o que seria interessante, conectar as impressões artísticas do diário de bordo de toda esta cena com as teorias acadêmicas, do mesmo modo falei á professora Beth Vidal, cuja tese de doutorado tenciono ler, que iria telefonar a ela para lhe agendar um encontro com a secretária de educação do município...
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... as coisas jamais são como imaginamos que elas sejam e assim sendo mal cheguei e logo tive que lidar com outras novas realidades, aliás, Soure me tem provocado esta sensação de permanente suspensão da qual eu tanto gosto, pois já tinha bem claro que por mais que eu definisse uma estrada para realizar o Resistência Marajoara, eu acabaria por encontrar aqui tantos caminhos que ficaria em dúvida quais os que deveria seguir, se aqueles nos quais eu viesse a me perder (e que são também necessários ao processo artístico) ou aqueles tortuosos e espinhentos nos quais afinal de contas eu acabaria por ter sagradas revelações tanto dos ancestrais conhecimentos das culturas tradicionais quanto de alguns dos elementos que constituem os processos de construções das culturas contemporâneas marajoaras, portanto, desde sempre me senti mais cego a tatear nos escuros das cavernas do que portador dos fachos luminosos das verdades, que são meras interpretações de realidades, e no caso particular destas que vivencio, absolutamente novas, ou seja, lido com realidades diferentes e as quais desconheço e que portanto não posso moldá-las aos meus projetos, ao contrário, meus projetos é que tem de se adequar a estas, para que sejam reconhecidos pelos cidadãos que aqui habitam e aos quais sempre haverei de convocar para que jamais deixem de acreditar na sua própria História, pois que esta história fincada neste solo amazônida é também a história de toda a sociedade nortista, ainda que esta tente a todo custo negar as mais profundas tradições...
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Soure, quinta-feira, 4 de junho, 19h15

a minha avaliação é de que as mudanças efetuadas no calendário do projeto acabaram por dispersar os alunos, entretanto, este fato também se deve a uma tendência natural de esvaziamento no que se refere à participação de quem quer que seja em projetos de longa duração como é caso deste nosso, que se estendera oficialmente até setembro, daí este fato da dispersão, até porque os alunos estavam acostumados com a rotina das quartas e sextas á tarde, além do mais, os professores das escolas públicas, que estavam em greve, recomeçaram as aulas, praticando aqueles velhos atos condenáveis de repor as aulas a qualquer custo, nesse caso, exigindo dos alunos maior participação nas atividades e bonificando atividades extraclasses, fatalmente, isso também concorreu para uma certa dispersão, e, o que é mais interessante dentro da perspectiva deste projeto, é que a juventude, toda ela, não tem experiência e eu os orientei a que eles próprios, os grupos, fizessem a sua parte, quer dizer, a produção dos exercícios de entrevistas, as perguntas, as locações, os contatos com os entrevistados que eles escolheram, a definição de local das entrevistas e de funções na equipe, ou seja, dei-lhes orientações e indicações gerais mas lhes chamei à responsabilidade para a tarefa, disse-lhes que deveriam utilizar as horas das aulas das oficinas para este processo, mas, diante de seus afazeres pessoais e das novas exigências escolares, eles quase que sucumbiram a si próprios, tomados meio que de nervosismo e insegurança, aliando-se isso a problemas e mudanças de última da hora, como outros compromissos da parte dos entrevistados, mesmo os previamente contatados (e eu havia lhes dito que fazer produção é prever problemas, solucionando-os antecipadamente, com a certeza de que novos problemas, imprevisíveis, e imprevistos, surgirão, diante dos quais é que terão mesmo que mostrar a sua competência, agindo com criatividade para superar as dificuldades que só imediatismo e o momento, a hora “agá” nos coloca), então, quando retornei a Soure, deparei-me com estas novidades, alterações de horários e de entrevistados, mas pude revelar entre alguns alunos a persistência, a perseverança e mesmo a paciência, valores para mim fundamentais à existência humana, o que me transmitiu ligeiro alívio, e assim as entrevistas rolaram na quinta-feira, pela tarde: Ronald Guedes e Paulo Alex...
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... com todas estas novidades, estou a pensar em mudar mais uma vez a agenda da Rede Brasil, mas os arteeducadores do Projeto chegar hoje de Belém...
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SOURE, sexta... 5 de maio, 7h45min

... ainda na quarta-feira, dia 3, quando soube da desmarcação do compromisso da quinta pela manhã, tratei de procurar o que fazer pois que aqui é sempre em produção e eu não sei ficar parado, quando não estou a agitar as cenas, produz´-las, estou a prepará-las, quando não estou a prepará-las, estou a escrever, quando não estou a escrever, estou a refletir, e sempre arranjo tempo para ver o sol nascer, a chuva cair, o sol se por e a lua se levantar, olho para o céu e vejo as estrelas e fico longo contente e viajo nelas...
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Encontrei o Mika, da Fundação Curro Velho, que anda por cá a ministrar uma oficina sobre Boi, almoçamos juntos e trocamos idéias e impressões, falamos de nossos projetos e de como podemos articulá-los, informei-lhe do encontro que o Projeto teve com o Valmir Bispo em Belém, e ficamos de conversar pela noite o que não aconteceu apesar de tê-lo procurado, mas dia seguinte reencontrei-o e combinei de ir ter com ele no ensaio de um boi, que mais tarde vim a saber se o BOI ZANGADO, do Tucumanduba, fiz fotos e combinei com eles de acompanhar o ensaio da noite de sexta, quiçá a oficina que o César (o puxador do Boi) vai dar aos meninos para que estes confeccionem os cavalinhos e também combinei de filmá-los no dia do arrastão, no sábado, dia 13 de junho, embora o César tenha me didto que o Boi vai ficar mesmo quente a partir do dia 20, quando eles vão percorrer as casas com suas danças e toadas, o Boi acabou de nascer e pareceu-me com uma força bestial, porque a comunidade se faz presente nos ensaios, ela participa e se coloca mesmo como protagonista deste ciclo, logo me comprometi também em fazer a projeção das filmagens e das fotos que estarei afazer na comunidade...
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5 de junho, 12h05min

... apesar da dispersão e do nervosismo e do excesso de atividades que sobrecarregaram os meninos depois que os professores das escolas públicas retomaram às aulas, as entrevistas estão a correr mesmo muito bem, com a presença destacada do Rodiney em todas elas, a começar do miniprojeto da Andrea, que também contou com a valiosa aparição de Cristina, que ensaiou por diversas vezes entrar no Projeto, tendo se confundido vários vezes com relação ao dia e horário das aulas das oficinas, portanto, a equipe coordenada e muito bem articulada pela Andrea fez de forma semiprofissional o que tinha de fazer lá no atelier artemangue marajoara, do Ronald Guedes, ou seja, a entrevista



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© Francisco Weyl

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