segunda-feira, 8 de junho de 2009

Soure fez festa para a cobra

“Quando eu vejo as pessoas passarem por aqui e perguntarem pela cobra, quando eu vejo os meus velhos amigos lá na festa, eu me emociono, eu me sinto emocionada com esta festa que realizamos todos os anos, a maioria das vezes apenas com a nossa própria força de vontade e com o apoio da comunidade”, diz a professora aposentada, Marilza Vasconcelos, criadora e coordenadora da Festa da Cobra, cortejo que reuniu centenas de pessoas nas ruas de Soure, Marajó, e que neste sábado, 6 de junho, completou 16 anos.
A Festa da Cobra pode ser definida como uma festa dionisíaca e com os tradicionais símbolos míticos e eróticos da cultura marajoara. Enquanto o cortejo segue, centenas de pessoas vão a ele se agregando, correndo de rua em rua, travessa em travessa, passagem em passagem. Percebe-se a adesão em massa da comunidade. Famílias inteiras nas portas das suas casas, senhores e senhoras, casais, com filhos ainda de colo e mais outros, meninos e meninas, curumins, e jovens, a saldar – por assim dizer - esta profana procissão, que, no lugar de um santo, transporta uma cobra, como se esta fosse um mastro, típico elemento (fálico) das festas tradicionais interioranas que se espraiam seja pelo Marajó, pela Amazônia e mesmo pelos rincões desconhecidos deste país.
E assim uma transgressão se vai desenhando pelas ruas, uma euforia consciente, que corta a cidade, mas que não a reparte, juntando-a neste nirvana através do qual todos se sublimam. A cobra, carregada por quem a este ato se arriscar, parece que tem vida própria, avançando ora de forma veloz, ora lentamente, algumas vezes se enroscando, engolindo a própria cauda, gerando cenas hilárias, com pessoas a pisar e mesmo a cair nas lamas que se formam com as constantes chuvas que desabam sobre o Marajó.
Vez por outra, a cobra para diante de um bar e logo o proprietário do estabelecimento oferece alguma bebida, que pode ser rum, cachaça, ou vodka, à cobra. E a cobra bebe e com ela também os brincantes que a carregam sobre suas cabeças, arrastando-a, puxando-a, com os seus movimentos, em direção aos outros participantes do cortejo. Há mesmo quem se lance sobre a cobra com toques e gestos de todos os tipos, como simulações de carícias e mesmo de agressões. Todos a querem tocar, todos querem na cobra se enroscar, todos a querem ver se mexer, todos querem se mexer com e como ela.

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